Passagem da 103/104 Norte ganha cores e histórias com grafite

 Passagem da 103/104 Norte ganha cores e histórias com grafite A passagem subterrânea da 103/104 Norte, antes associada ao abandono e à in...

 Passagem da 103/104 Norte ganha cores e histórias com grafite

A passagem subterrânea da 103/104 Norte, antes associada ao abandono e à insegurança, foi transformada após uma ampla reforma que abriu espaço para um mural coletivo feito por 16 grafiteiros do Distrito Federal. A intervenção integra o programa de revitalização das passagens do DF, que recebe investimento superior a R$ 4 milhões por meio de parceria entre a Novacap e a Secretaria de Segurança Pública.

O túnel passou por reforço na iluminação, instalação de câmeras e recuperação estrutural antes de receber a pintura. Com o local renovado, a Novacap convidou Elom Cordeiro, artista de Ceilândia, para organizar o trabalho artístico. Ele reuniu grafiteiros de diversas regiões administrativas, cada um responsável por um trecho dos 382 metros de paredes. Segundo o curador, o mural foi pensado a partir do olhar de quem utiliza a passagem diariamente. “As referências vieram muito das conversas com os pedestres; tentamos transformar em imagens aquilo que eles desejavam ver aqui”, contou.

Na parte externa, as entradas norte e sul receberam elementos inspirados nos azulejos de Athos Bulcão, escolhidos para sinalizar a presença do poder público sem interferir na identidade da arte urbana. Elom afirma que o equilíbrio entre o caráter institucional e a expressão livre dos artistas foi uma das preocupações do grupo. “A gente queria que o espaço continuasse sendo do pedestre, mas com o cuidado e a atenção que uma área pública merece”, disse.

O mural reúne trabalhos de Scooby, Neco e Atax, de Taguatinga; Lapixa e Karek, de Sobradinho; Rivas, do Sol Nascente; Guga, da Asa Norte; Spek, do P Norte; Drop, Du Santos, Síria, Scorpia e Camz, de Ceilândia; além de Naty, do Recanto das Emas. As linguagens e temas são diversos: Guga homenageou a cena punk local registrando nomes de crews que circulam pela região; Rivas optou por frases de estímulo para quem atravessa o túnel diariamente; e Elom incluiu personagens da cultura pop, como As Meninas Superpoderosas, atendendo pedidos de usuários da passagem.

Um dos painéis que mais chamam a atenção é o desenvolvido conjuntamente por Síria e Spek. Ele criou o retrato de uma mulher negra, e ela complementou a imagem com caligrafias e elementos gráficos. “Quis valorizar a presença das mulheres negras na cidade, usando cores e formas que remetem à ancestralidade e à força que carregamos”,explicou a artista.

A transformação tem sido bem recebida pela comunidade. Morador da Asa Norte há décadas, Luís Barbosa afirma que a mudança no ambiente é evidente. “Antes era um túnel malcuidado, escuro, desagradável. Hoje a diferença é enorme: ficou claro, limpo e muito mais tranquilo para atravessar”, comentou.

Domingas Dias, que usa a passagem para ir ao trabalho, conta que antes evitava o local. “Eu preferia desviar pelo trânsito porque me sentia insegura. Agora ficou completamente diferente, com mais luz, organização e câmeras. Voltei a utilizar sem receio”, disse.

Enquanto isso, a Novacap avança na reforma de outras passagens subterrâneas, incluindo a da 107/108 Sul, que está na fase de recuperação estrutural. A companhia reforça que a conservação dos espaços depende também do comportamento diário da população, especialmente no descarte correto de resíduos e no cuidado com o patrimônio revitalizado.

Com o novo mural, a passagem da 103/104 Norte deixa de ser apenas um ponto de travessia e passa a funcionar como um espaço cultural e seguro, resultado da soma entre investimento público, arte urbana e participação da comunidade.